Viagem dentro de mim...

Tu és…
Aquilo que fizeram de mim. Moldaram-me, ajeitaram-me, limaram-me. Mudei.
Quem fez isso de ti?
A vida. As pessoas. As contingências. O acaso ou o destino (?).
Muito de mim nasceu já assim. Sou uma peça de barro que nasceu em bruto, com instintos, sensações, aptidões, capacidades e limitações. E cada experiência por que passei foi um instrumento, uma mão, um dedo a moldar-me à sua forma, a ajustar-me a si.
Mas és feliz assim?
Sou feliz enquanto busco ser melhor, enquanto procuro ser mais. O melhor de mim está ainda por revelar, e é na corrida contra os dias que procuro trazer-me à superfície.
O que és? Como és?
Sou pedaços de vida. Sou pedaços de dias, uns mais intensos que outros. Sou polegadas impressas no barro, e sou gota de orvalho que a manhã se esqueceu de secar.
Sou restinho de terra na água que sobe e desce nuvens, percorre montes, mares e céus e ar… Sou ar… vazio preenchido. Todos os dias um pouco mais preenchido. Mas no entanto ainda vazio.
Sou coração preenchido por amor, olhar atingido pela dor… tantas vezes, tantas que faz chorar. Sou pensamento imoral, sou moralidade e sou um pouco dos costumes dos meus. Sou também um pouco de mim… Sou daquilo que amo, sou do chão por onde passo todos os dias. Sou alguns hábitos difíceis de desfazer, alguns gestos deliciosos de ter.
Vives para quê?
Vivo para sentir, na pele e nos sentidos. Vivo para ver, ouvir e cheirar os dias. Nas pequenas coisas me encontro, nas pequenas vitórias vivo o sonho.
De que é que não gostas?
Não gosto do vazio… não gosto da solidão quando ela não dura apenas o suficiente.
Não gosto da eternidade. Não gosto da mentira, que por dentro é vazia.
Por vezes não gosto de mim…
Qual é a melhor coisa do mundo para ti?
O abraço… o abraço que me faz dormir em paz. O abraço que me faz regressar a casa… a mim, por fim.