História de amor em dias de tempestade...


Os pássaros voavam baixo, inquietos. Ouviam-se as gaivotas em terra, sinal de que a chuva vinha a caminho.
Mia e Martim correram como crianças a fechar o último par de janelas, enquanto ouviam o primeiro trovão ao fundo.
Tudo estava como deveria estar: o estúdio praticamente às escuras, uma espiral de fumo de incenso desenrolava-se no ar, a lareira estava finalmente a pegar, apesar do vento; o chocolate quente acabava de aquecer numa chaleira.
Velas enchiam o chão perto do sofá e da cama; enquanto trauteava “What a Wonderful World”, Martim acomodava uma manta gigante no sofá, a preparar um verdadeiro ninho.
Mia trouxe almofadas e um cobertor para o chão, quando ouviu os primeiros pingos de chuva a rasgarem o ar e deitarem-se nas ruas e nos telhados. Sorriram um para o outro; nada mais compensador depois de uma semana de trabalho, do que a companhia romântica e cheia de paz que encontravam um no outro.
Mia trouxe o chocolate quente nas suas duas canecas favoritas, enquanto Martim se aninhava no sofá. Beberam o chocolate enquanto conversavam e brincavam sobre os pulos de Mia a cada trovão que murmurava violentamente no céu. Riram de alguns episódios ocorridos durante a semana, falaram de algumas preocupações, enquanto passavam os olhos por alguns programas ridículos da televisão. Decidiram desligá-la ao fim de poucos minutos, fechando os olhos e deixando-se meditar ao som da tempestade que se desenrolava lá fora. Abraçados e apertados um contra o outro, entregaram-se. Ele acariciou-lhe o rosto ainda mais embelezado pela luz tremeluzente das velas e da lareira, enquanto torciam os pés em ternuras. Ela afagou-lhe o cabelo macio, enquanto ria do seu olhar perdido sobre ela. Embora já se conhecessem há muitos anos enquanto amigos e se amassem há bastante tempo, nunca tinham perdido a vontade de contemplar o outro.
Sorriam um para o outro, enquanto os seus corpos se entrelaçavam lentamente num abraço. Ficaram longos minutos abraçados, a ouvir a chuva.
“Sabes o que imagino quando oiço a chuva?”
“Não!”
“Imagino as gotas a penetrarem na terra, sinto aquele cheiro húmido da terra molhada misturado com o som da terra cada vez mais húmida e fofa.”
“Ou seja, as minhocas a morrerem afogadas!”
“Oh Martim…”
“Que é? Deves pensar que elas têm guelras, não?”
“Oh… estragas a magia toda das coisas!” terminou ela, de beicinho.
Ele agarrou-a contra si, rindo-se muito. Adorava provocá-la… ela resistiu apenas por uns momentos, soltando uma gargalhada logo a seguir.
“És o pior…”
“Mas tu gostas!...”
Riram os dois, envolvendo-se num beijo longo e molhado. Ele segurou-lhe no rosto enquanto a beijava, gesto que lhe ocupava a cara quase toda, devido aos seus dedos longos. Beijou-a levemente nas bochechas, saltando para o pescoço e as orelhas. Ela ria-se, arrepiada. Voltou a beijá-la, sedento dos seus lábios. As suas mãos percorreram-lhe todo o rosto e o pescoço, descendo até ao seu peito. Sentiu-lhe o coração acelerado e aberto para ele... sorriu.
Brincavam, percorrendo-se um ao outro com as pontas dos dedos, como se fosse de novo a primeira vez.
“Mia…”
“Hum…”
“Queres fazer amor comigo?”
O som de um sorriso nasceu entre eles.
“Quero…”
Despiram-se lentamente entre carícias, sempre a sorrir. Acabaram por fazer amor no chão, sobre as mantas e à luz da lareira. Olhavam-se no fundo dos olhos, sentindo-se um ao outro com a intensidade da tempestade que nascia lá fora. Estavam no lugar onde pertenciam, naquele momento. Um no outro, como uma só peça, um círculo perfeito e completo. Queriam-se tanto um ao outro, soltando suspiros e gemidos, sussurros de loucuras que pediam um ao outro.
“Amo-te, Mia.”
“Amo-te…” Olhavam-se apaixonados, tocavam-se com uma paixão desmedida. Pareciam naquele momento amar-se como não haviam amado mais nada nas suas vidas. Deliciados de prazer e de amor, chegaram ao fim ao mesmo tempo, como almas gémeas. Riram alto de felicidade e exaustão. Respiraram profundamente e em silêncio durante alguns minutos.
“Adoro ver-te sorrir assim!”
“Fazes-me feliz!”
“Vou fazer tudo para te ver sorrir assim muitas vezes. Todos os dias…”
Ela abraçou-o, deliciada com aquelas palavras.
“És lindo, sabias?”
“Sabia… Elas dizem-me isso muitas vezes!”
“Mau…”
Os corpos nus acomodaram-se um ao outro, relaxando e adormecendo. O calor abraçou-os, e abraçados ficaram toda a noite, esquecidos do mundo, enquanto na rua a chuva continuava, acompanhando os seus sonhos, como uma melodia dedilhada nos telhados. Nada mais existia ou importava, naquele momento...
Algures no céu, ouviu-se um suspiro. Afinal, ainda existem verdadeiras histórias de amor…

Comentários

Anónimo disse…
:) texto lindo... és a maior

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