cantar para afastar o barulho...


Em silêncio agora, como um comboio em movimento.
A música alta como anestesia para a alma, não deixando espaço para o pensamento. Escuridão quase completa, deixando apenas espaço para a respiração.
Uma voz bonita funciona como uma forma de elevação da mente, do estado emocional; vivem-se as palavras cantadas com elegância no timbre - como se estivéssemos a senti-las.
Há conforto em cantar, acompanhando desajeitadamente o ritmo da da canção. Quem me dera saber cantar assim...
Tamborilam os dedos, na mesa e nas teclas. As pontas do cabelo recém-cortado picam nas costas nuas. Por vezes não ter nada para fazer é mais desesperante do que ter várias tarefas simultâneas.
O corpo balança-se na cadeira, a favorita, com pés em forma de estrela e rodas. O pé bate no chão, desajeitado.
Há um ritmo desfiado neste vazio de acções - porque não há acções com um objectivo, há apenas gestos sem sentido. Como forma de consolar um espírito irrequieto em pensamentos, uma cabeça mergulhada em perguntas para as quais não encontra resposta. Olha pela janela - o vento parece acompanhar-lhe a agitação do coração.
Fosse folha... agitar-se-ia com a fúria da Natureza, e acabaria por voar... o céu encontra-se à sua frente, esperando a sua carícia.
Endireita-se na cadeira. Um duche. É isso. Um duche que lhe leve o barulho e as impurezas do corpo e do pensamento, deixando de novo o silêncio...

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