Poema sobre a curva do meu pescoço
Já vi coisas boas a perderem-se
Tantas vezes
Que por vezes não consigo evitar
Ainda que a espaços
O medo
Mas depois
É na curva do meu pescoço
Que tu páras para descansar
Como quem se senta ao balcão do seu bar preferido
O nariz à procura de se fundir na pele
Estacionas como quem diz
Tudo bem por aqui
Neste cantinho à beira-mar plantado
E lá segues tu
Como passarinho assobiando por entre os telhados
Alheio aos gatos
E às pestes que costumam tirar-te o sono
A espera cansa
E a solidão, em alguns dias
Queima
Mas depois vem a cadência
Do teu respirar consolado e quente
A contornar a curva do meu pescoço
Às vezes, até há um beijo arrepiado
E desse lugar parte um som
Espera, já sei
(vais achar que é mariquice)
Mas há, num eco provocado pelo tempo
O som do destrancar de uma fechadura
A cada vez que me procuras e ali adormeces
Adormeces como quem está no seu lugar
E eu
Sem perceber bem como, nem porquê
Abandono-me ao sono contigo
E creio
Na esperança dos crentes
No optimismo dos que fazem contas
Deixo-me ali ficar
A ser o balcão do teu bar.
Comentários