Caixas vazias.
Há dias em que podíamos ser caixas vazias. Todos nós temos dias sem interior, sem presença. Mas outros dias há, em que a caixa está cheia. Diferentes objectos se nos revelam e nos preenchem, de formas diferentes e bonitas. E o que nos leva lá, a cada um de nós, é a nossa capacidade tola de continuar a sonhar. A minha ponte? O meu objecto? O amor. Sim, ainda acredito. Ainda vejo, numa linha mais lá ao fundo, a minha mão suportada por outra, forte, constante. Oiço uma gargalhada sobre a minha, dando força uma à outra, mutuamente. A par de todas as imperfeições, de todas as resmunguices, a minha mão estende-se para a sua face, lembrando-se da ternura nas horas mais imprevisíveis. A minha voz desafinada enche a sala, e há alguém que me ouve sorrindo. Com isso sentindo-se confortado. O meu coração enche-se ao ser surpreendida com um beijo. Quando acordo sabendo que um abraço é o meu lugar seguro, em dias de chuva, de poeira, de assim-assim. Muito disto não será como imaginei. ...