Hoje,
talvez pela primeira vez em muito tempo, senti saudades de uma antiga amiga. A única que tive com pés e cabeça, do princípio ao fim, para todo o terreno.
Amiga que se julga que vai estar ali para sempre. Com quem desabafamos, a quem ligamos já sem pensar, sem hesitar no número a marcar. E que nos aparece, também ela, em momentos de desespero, sempre contando connosco e a quem acudimos sem pestanejar.
Até que um dia, esta pessoa que conhecemos e a quem amamos, como um mapa que nos está colado à razão e nos é querido mais do que nós próprios, desaparece. A esta pessoa dá lugar uma outra, que não conhecemos, e de quem certamente não sabemos gostar.
O afastamento é bola de neve, e se já íamos compreendendo mal esta pessoa, aos poucos vamos até criando aversão, sem compreender bem porquê. Reagimos como um animal confuso e encurralado.
Feridos pelo nosso próprio orgulho e ignorância do que se passa, somos também nós parte dessa bola de neve, porque queremos a pessoa "antiga" de volta; não este corpo reptiliano que lhe deu lugar, que parece ocupar o seu posto, mas que não nos diz nada.
Foi assim que acabei por perder a grande amiga de uma vida. Sem saber bem porquê nem como.
Foi assim que perdi a confiança (nos outros? em mim?) e o desejo de me voltar a envolver assim com alguém, nessa dança íntima como um amor romântico, que faz parte de nós.
Segui em frente, mas sempre em pose de animal ferido, coxeando.
* a verdade é que penso nesta amiga muitas vezes... a diferença de hoje é, talvez, o já conseguir pensar com algum carinho e saudade, e menos focada no desapontamento...
Comentários
passei aqui por acaso e fiquei rendida :)
Vou seguir(-te)
já ganhei o dia apenas com as tuas palavras! :)) muito obrigada, mesmo...***