Há noites assim. (Ode aos desconcentrados).
Encontro-me assim a modos que mal aviada. Fico a olhar para a fatia de lua amarela lá fora, pelo rectângulo encaixotado no tecto, enquanto as nuvens bailam à sua volta, sem nunca se vincarem. Leves, soltas, como se quisessem dizer-me que nada do que é belo fica.
Finco as unhas na perna, para me obrigar a concentrar. Com uma dose de estimulantes (legais!) por mim abaixo, que me devia dar vontade de convidar a tese para dançar. Nada.
Levanto-me para esticar as pernas, rodo o pescoço, e sinto as articulações como que coladas (tretas!, que isto com 24 anos é impossível ser verdade), obrigando-me a mexer.
Volto a sentar-me. Mexo no cabelo, mesmo a tempo, uma madeixa solta-se. Assim não dá para trabalhar, e perco mais cinco minutos em busca de um gancho que resolva o problema.
Se calhar preciso de inspiração, penso eu, e navego em busca de músicas e de frases e de coisas (que nada têm a ver com a tese), mas eis que não tenho ligação à Internet, e lá vai de mais dez minutos até conseguir ver alguma coisa de jeito.
De repente dá-me a fome, e a porcaria da página do Word continua em branco, com aquele cursorzinho idiota a piscar. Corro lá abaixo para ir buscar qualquer coisa, mas o cão também quer ceia, e demoro mais dez minutos porque ele está deitado no meio da cozinha a ver se caem migalhas (como caem sempre, mais que não seja, fruto de tropeções).
Consigo vir para cima depois de um xixizinho (já cá faltava) e escrevo cinco linhas, cheia de embalagem.
Entretanto já é madrugada pura e dura, estou cheia de sono e vou-me mas é deitar, que amanhã também é dia.
Tenho dito.
Comentários
P.S. como sempre é absolutamente irresistível e delicioso ler o que tu escreves. Por favor, escreve paletes de livros ok?
Vai chegar o dia em que entras no pc e quando dás por ti já escreveste mais do que estavas a pensar... Tens que encontrar o FLOW.
Mt bom