Diário de uma empregada/confidente
Ela ainda se deve lembrar da cara dele, toda torcida diante da sua, disposta a tudo para lhe arrancar um beijo. Horas e horas, juntos no café que era só deles, no cantinho deles, com a torrada partilhada e os triestinos, numa rua esquecida de Lisboa. Conversavam de tudo, ele e ela, tentando disfarçar aquele desejo de se beijarem. Não podiam... mas ainda assim... as caras coladas, a olharem-se no fundo dos olhos, à espera que o desejo deixasse de os querer juntar, ou que a força de vontade para o impedir desistisse. Lembro-me dos olhos dele, atentos e deliciados, a sorrir para ela com um jeito único que a fazia corar. Não pedia nada com palavras, a não ser estar perto, bem pertinho dela. E ela dizia que não, mas já a sua cara se inclinava na direcção dele, dizendo o contrário... Pergunto-me quantos minutos terão passado juntinhos, a olhar a boca um do outro, a pedir magia que os juntasse sem consequências? Quantos roçares de lábios fingiram eles que não aconteceram? Quantas respirações