Noiva cadáver...
inclinou-se como uma velhinha. e deixou o vento passar entre eles...
... o que é que se podia dizer, num momento como este? quando temos o coração de alguém nas mãos, qualquer palavra parece minúscula, insignificante. as rugas abespinhavam-se na sua testa, reflectindo a confusão. e as mãos suavam (todo o corpo, aliás), arriscando deixar cair o coração. isso não podia acontecer...
... o que é que se podia dizer, num momento como este? quando temos o coração de alguém nas mãos, qualquer palavra parece minúscula, insignificante. as rugas abespinhavam-se na sua testa, reflectindo a confusão. e as mãos suavam (todo o corpo, aliás), arriscando deixar cair o coração. isso não podia acontecer...
a roupa colada ao corpo, o sorriso forçado, sentindo o tempo a passar. segundos demais entre a pergunta e uma resposta que devia ser óbvia e imediata. e no entanto tão distante de ser aquela que ela queria dar...
a boca dobrava-se, os lábios mordiam-se, tentando arrancar algo de inteligente para dizer. mas só lhe ocorria fugir dali para fora...
e o entusiasmo do outro lado do espelho, não lhe poder corresponder... que dor, que aperto no estômago!
o sorriso interminável e expectante de alguém que sabe o que vai ouvir, que é o mesmo que quer ouvir... mas que é diferente do que quer ser dito...
ele grande, muito grande, e inchado e vermelho como um gordo feliz que acabou de devorar uma mesa inteira de delícias. e ela pequena, tão encolhida como se quisesse enfiar-se dentro de si mesma e desaparecer, a face pálida e a tentar não deixar escapar a sua sensação gritante de pânico!
desesperava só de pensar na hipótese de ele desconfiar da sua vontade. e logo nesse dia! porque é que não soube antecipá-lo? era a última coisa que esperava ouvir!
só de imaginar o quanto ele sofreria, o seu estômago devorava-a por dentro. agora via. sentia pena. nada mais.
tentou respirar fundo, tentar passar a conseguir sentir o que se devia sentir. sem sucesso.
o momento por que todos esperam. devia ser mágico. mas ela só queria sair dele.
mas agora era tarde. ou não seria?
tinha que dizer a verdade.
não, não quero casar contigo.
apaixonei-me por outro.
como dizê-lo? como deitá-lo cá para fora?
timidamente, tinha de escolher. de falar. e quase sem voz o fez:
"sim..."
promessas por cumprir.
Comentários
mas a vida faz disso, prega-nos partidas e no tempo em que o coração é que deve mandar ficamos sem mãos para agarrar o que sentimos...
forte.