Vai e beija o mar por mim
Ela foi e pediu-lhe. "Beija o mar por mim." Nunca mais poderia voltar ao mar. Não àquele; não àquela praia. Que tristeza tamanha. Deparava-se com uma imensidão de nada, de vazio. No peito gritava uma sensação de injustiça. Não poder tornar a uma casa onde se foi tão feliz. Onde nos redescobrimos, onde fizemos outros felizes. Como quem fez algo de errado. A frustração de saber como é raro sentir assim. Aqueles instantes que queremos agarrar para nunca largar, "é isto mesmo", "estou no sítio certo", "quem me dera que nunca acabasse". E depois ter de largar tudo; pegar fogo ao que se construiu, ao que se foi; ter de fugir e começar de novo. Um dia houve medo. Medo de nunca mais conseguir ordenar aos dedos que se juntassem em equipa para escrever. Por momentos pareciam ter deixado de lhe dar ouvidos. Medo de ser agora irremediavelmente incompleta. Medo do seu coração, que enfim revele ter passado a ser de pedra; sem sonhos, sem calor, apen...