Música de dentro
Na maior parte dos dias, vou andando. E depois há dias em que me lembro de como era. De como devia ser. Ou de como realmente é , aqui dentro. Aquele impulso dos sonhos, quando voamos. Aquela força doce, o arrepio na nuca, a certeza que vem de dentro. Gosto de pensar nisso como o som do nosso coração, mas acho que lhe podemos chamar equilíbrio, harmonia. Eu sabia comunicar assim, antes de a dor chegar. Ao ar livre. Entretanto esqueci-me de que existia esta língua; este lugar . E acho que foi a dor que me distraiu e escondeu o caminho atrás das suas costas. Há tempos, contudo, voltei lá, num daqueles sonhos revestidos por nevoeiro. Também já fui abençoada com breves instantes dessa consciência - como uma fotografia instantânea -, enquanto estava acordada. E admito-me perfeitamente obcecada com esse sabor a paz. Quero mudar-me para lá. Ficar daquele lado. Ainda que isso exija ser malabarista para toda a vida. Sei uma parte do caminho: temos de nos calar e esperar paciente...