Janela
Saio do banho. Oiço um crepitar longínquo que não consigo perceber. Será desta que a madrugada começa a despertar em mim? Sinto assim um formigueiro cá dentro. Pergunto-me se é finalmente a luz a querer irromper para fora de mim. Procuro vestígios à minha volta. Fios de luz entornados na sombra, evidência de um começo. De uma janela que quer abrir-se de mansinho. Espreguiço-me. Ponho " Bohemian Rhapsody " a tocar, o volume a abaular os tectos. O corpo desliga-se da mente, move-se sem fios condutores. E no entanto, algo parece conduzi-lo. Algo cá dentro lhe dá electricidade. Não consigo parar... Tenho esta visão colada a mim, pegada ao corpo como o suor num dia de calor. Movo-me com crescente intensidade, para a tentar sacudir de mim. Mas talvez contrariando tudo, ela torna-se parte de mim. Talvez ela encontrasse essa brecha em mim, e aproveitando-se dela, se esgueirasse alma adentro. Às tantas danço-a. Danço esta visão até à exaustão, até que os cabelos acabados de sair d...