Desabafo a quem queira ouvir
O corpo inclina-se para trás, as costas ficam arqueadas, duas pequenas curvas de músculo formam-se sob as omoplatas, e as pernas esticadas impulsionam todo o corpo para trás como uma mola que se dobra de forma perfeita. A silhueta desta mulher em contra-luz parece um sonho, sentimos a inegável beleza das curvas de uma mulher a impelir-nos como um soco no estômago, porque percebemos que parámos de respirar. Como se observar algo tão belo e absorver ar fossem duas tarefas impossíveis de serem realizadas ao mesmo tempo. Ou como se simplesmente nos esquecêssemos.... E num salto ela voa. Está no ar, quase parando o tempo à sua volta, para ser apreciada na sua façanha simetricamente perfeita, de execução irrepreensível. Acho que é esta sensação de sufoco que imagino, quando penso em estar num palco. Quando me imagino dona de uma voz que faça parar o ar que circula, que descaia a boca de muitos surpresos, que arrepie a maioria e que faça chorar os amados. Imagino os olhos fechados num aper...