Sou um canto desta cidade...
espreito por entre as janelas, iluminadas por dentro, com as suas cortinas coloridas. cada casa é uma casa, com gostos diferentes, recortadas de outra forma. as sombras agitam-se lá dentro, alguns assobios e sorrisos bailam, os seus sons abafados chegam cá fora. as luzes arrastam-se. não desisto de passear, embora a noite teime em estar fria. mas é este frio que me faz andar, andar sem parar pelas ruas que eu amo e que fazem parte de mim. porque esta cidade faz parte de mim, com todas as suas ruas sujas, sem-abrigo, errantes, lojas antigas e cheiro a castanhas assadas. se preciso de lhe amar os defeitos para poder amá-la por completo, faço-o, com uma facilidade que me espanta. outros reparam nas pedras da calçada sujas e imperfeitas, nos seus indivíduos mais sombrios e nas intenções que se escondem por detrás de cada rua menos iluminada. Mas eu vejo apenas os candeeiros deliciosos que recortam sombras para os nossos pés, as personagens enriquecedoras que vagueiam entre nós, as história...